louro com miolo

Tudo interessa....

14 setembro, 2004

Um Conto

Teresa postou este como como comentário, mas acho que deve estar aqui, então está:

"stela said...

um conto para o loiro Pediram-me para escrever um conto. Escrevi. Disseram-me, depois de lido que não era um conto e sim uma descrição. _ Então, Não é um conto?_ Não é, não, senhora!Olhei para os lados, me ajeitei na cadeira de sala de aula. Peguei novamente uma nova folha de papel e um lápis com a ponta bem afiada. E recomecei a escrever.Era uma tarde de sol, quando ela percebeu que o abandono maternal tinha lhe deixado uma cicatriz na alma, maior que todo aquele oceano azul que ela avistava da sua janela, com o pão de açúcar servindo de moldura.Parentesco elas tinham e um parentesco muito próximo, como já escrevi: mãe e filha. A mãe que tinha medo de sê-lo. Qualquer aproximação de pele maior era visto como uma ameaça, como percebi muito bem pela filha, quando tentava beija-la. O rosto era sempre levemente desviado para que os seus lábios, de filha, não tocassem o seu rosto, de mãe, mas apenas que seu rosto, de filha, tocasse seu rosto de mãe, levemente. Os anos se passaram mas, a dor que sentia no meio da alma pelo abandono, pela crítica intermitente, com uma parcela de desprezo, aumentou de tal forma, que a paralisou.Passava ás tardes olhando pela janela, através das grades, o imenso oceano.Nada aplacava o seu ser de ter sido abandonado, tanta alegria, ter sido sufocada. A verdade tinha sido revelada, através de um divã de psicanalista, que depois de alguns minutos, lhe mostrou a porta de saída, que não era a mesma da que entrada. Instante depois estava na rua, que se tornara enorme e barulhenta. O vazio que tanto a atormentava tinha uma razão de existir. Queria que fosse outra razão, porém não era. Sua mãe que tanto ela amava, que tanto ela queria que a amasse, tinha muita dificuldade de aceita-la daquele jeito, meio escandaloso, alegre, criativa, sem censura madura.Até aquele momento não conhecia o significado da palavra abandono. Daquele momento em diante passou a conhecê-lo. Sentia dores no corpo. Era a marca do abandono. Ele não podia ser esquecido, estava tatuado na epiderme da filha. Noite e dia começavam e terminavam e ela, filha, insistia em sobreviver dentro das constantes criticas e abandonos que sempre insistiam em ser reavivados. O vazio em que o abandono encontrara na filha era um poço fundo entre suas costelas onde se sente o coração. Este acelerava toda vez que percebia que ela, a filha, se debruçava na janela. O coração não via as grades, ele só sentia o desespero da dor. Até que, em um domingo ensolarado, a filha , partiu. E ela, a mãe, nunca mais ouviu falar nela, a filha. Afogou-se no mar, enquanto tentava ser abraçada uma única só vez, pelo menos, pelo mar.